terça-feira, fevereiro 24, 2009

"O poeta é um fingidor"



Comentário à quadra:

“Água que passa e canta
É água que faz dormir…
Sonhar é coisa que encanta,
Pensar é já não sentir.”
Fernando Pessoa,
in Quadras ao Gosto Popular, Ática



Fernando Pessoa defendia a Teoria do Fingimento, afirmando que “O poeta é um fingidor.”
Este fingir poético é encarado como um processo de representação mental de uma emoção, sendo que o poema não é escrito no momento em que se vive a emoção, mas sim no momento em que a mesma é revivida. Existem, então, diferentes tipos de emoções “fingidas” na poesia: as que o poeta sentiu humanamente (vividas, mas já passadas e presentes na memória) e as que o poeta não viveu, mas sentiu no intelecto. Todas estas emoções são o resultado de uma análise posterior e racional da realidade, pois todo o tipo de arte é uma intelectualização da emoção.

Os primeiros dois versos revelam a necessidade do carácter intelectual e racional da poesia, uma vez que demonstram o quão pobre seria esta arte se se tratasse da simples e momentânea descrição do estado de espírito do poeta.

Logo, o poeta jamais poderá sentir sem pensar.
E é o facto de a poesia ser racional, que faz com que o poeta sinta com a imaginação e não com o coração.

Os últimos dois versos referem-se aos sentimentos do poeta, que, tendo de sentir a pensar, não vive plenamente as verdadeiras emoções do coração.

Na realidade, o poeta nunca sente da mesma forma que o homem comum!

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